quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

MIOSÓTIS.

Pequena erva que sobre meu sepulcro brota,
se essa carne pra mim já agora inútil,
pode ser pra ti adubo fértil,
atende ao pedido desta alma ignota.
Se puderes escolher o que queres ser
como as pequeninas almas antes de nascer,
não sejas Lírio, Cravo ou Jasmim,
seja um Não-Te-Esqueças-De-Mim. - (Dário B.).

TORNAR.

De tão possíveis ser nos tornamos impossíveis. A lembrança agora tão fraca do teu rosto. Mas lembro a noite que me constastes tuas dores, antes de me exilares da mesa do nosso destino. Tu não me vês, mas teu olhar me segue neste lugar que guardei tua maior tristeza. Indizível reduto que há em ti e em mim. Quando sonhares em claro, teus sonhos vão me contar pra ti. O meu tentar ser um único som. Contar o nosso brutal desejo de ser juntos numa luta ou num beijo, como uma descarga de luz. Que eu só vou sentir quando te dissolveres no ar. E eu continuar te buscando com meus olhos de cão, até o pó inútil de mim mesmo. - (Dário B.).

QUESTÕES...

Senhor, de que estranho barro fui moldado,
onde o apanhaste distraído,
que não me dá desta vida o olvido
nem uma campa onde durma sossegado?
Fui feito parece sem cuidado
por um anjo de seu lavor já esquecido,
a fazer sua tarefa apressado,
como se tempo houvesse à ser cumprido.
Saí um vaso mal-feito, mal-acabado,
continente de tudo o que é sofrido.
A tristeza, angustia, medo e o pecado,
e todo o mal ainda não sabido.
Explica, Criador, à este desgraçado,
porque só dor este vaso tem contido. - (Dário B.).
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...