sábado, 12 de dezembro de 2009

MOVIMENTO.

Celacanto provoca maremoto.


Vendavales, Levanter, Scirocco, Leveche,

Libeccio, Tramontana, Bora, Marin,

Alísio, Brisa, Minuano, Noroeste,

Vardarac, Grecale, Meltemi, Khamsin,

Bóreas, Eureus, Notus e Zephyrus,

Ciclone, Furacão, Tornado, Tufão,

No estreito espaço do meu peito.

Mas muda o rumo de qualquer vento,

Inverte a rotação do planeta,

No piscar de um momento,

Uma asa de borboleta! - (Dário B.).


quarta-feira, 22 de julho de 2009

ECO.

Quem escreverá a historia que podia ter sido? Agora quando grito para dentro de mim esperando pelo eco ouço apenas o vazio. Era um cofre que quase não se podia fechar de cheio, pobre esquife agora, restos de tábuas trabalhados as pressas. Vim ao mundo como quem é posto na roda dos enjeitados. Sem régua, compasso, bússola ou dez mandamentos. E embora sempre sentisse muito, nunca tive o que sentir. Toquei e vi mais do que meus olhos e agora tenho medo em pensar o que me restará disso. Cada momento é como sangue novo sob o velho açoite, é como querer beber o fundo do poço que não tem fundo, como navalhas que vem pelo ar com destino certo. E descubro que a vida enjoa. E tenho pena daqueles que rogam aos céus por longevidade e saúde. Pena deste amontoado de gente nas ruas, tão bem vestidos para cobrir a angustia interior, gastando maravilhados um dinheiro que não possuem em inúteis lindas coisas empilhadas nas vitrines. A vida enjoa e eu pasmo de o mundo não ter parado mesmo acontecendo tudo o que me acontece. Tem alguma coisa de errado nisso e eu só consigo pensar em como seria bom dormir, mas dormir a valer, per omnia sécula seculórum. - (Dário B.).

terça-feira, 16 de junho de 2009

DESCALABRO

Ali vai a conclusão.

Ali, fechado e selado,

Ali, debaixo do chumbo lacrado e com cal na cara

Vai, o que pena como nós,

Vai o que sentiu como nós,

Vai o nós!

(Álvaro de Campos.).


Eu só tenho pressa que o dia passe. Há convenções sociais, cuidados pessoais, há a busca imediata do prazer, mas a fatalidade pingando lenta dos ponteiros do relógio mostra o nada que isso se tornou. Só há realmente a pressa que o dia finde, que finde a noite insone e não haja mais amanhecer. Nada mais de cortesias nem vãos sorrisos obrigatórios. Nada de rotinas e responsabilidades. Nem sentimentos obscuros ou desejos irrealizáveis. E nem o horror do novo por a viagem ser para o ultimo destino é impedimento. O único desejo que resta é esta ansiedade, essa quase angustia que faz o corpo pulsar a espera do fim. Eu só tenho pressa que o dia passe. Pressa que a vida passe. Se pelo menos não demorasse tanto... - (Dário B.).


segunda-feira, 15 de junho de 2009

FAVORITOS XIII

Este eu não sei o titulo nem o autor, mas quem assistiu o filme deve ter percebido o poema escrito em uma das paredes do sanatório. Não sei porque tenho a impressão que é do Arnaldo Antunes, mas posso estar enganado e por isso confesso minha ignorancia e peço desculpas antecipadas pela falta de crédito. Mas o poema achei fantástico, tem tudo a ver.

Pós postagem: Uma corajosa alma que se arrisca as vezes a passar por aqui me confirmou que a autoria é mesmo do Arnaldo Antunes, o que me faz admira-lo ainda mais. Quem passou por uma situação analoga a descrita no poema e filme sabe do que falo. Obrigado Fabiana, pelo interesse.


BICHO DE SETE CABEÇAS (?)

O buraco no espelho está fechado

agora eu tenho que ficar aqui

com um olho aberto, outro acordado

no lado de lá onde caí.

Pro lado de cá não tem acesso

mesmo que me chamem pelo nome

mesmo que admitam meu regresso

toda vez que eu vou a porta some.

A janela some na parede

a palavra de água se dissolve

na palavra sede a boca cede

antes de falar e não se ouve.

Já tentei dormir a noite inteira

quatro, cinco, seis da madrugada

vou ficar ali nessa cadeira

uma orelha alerta, outra ligada.

O buraco do espelho está fechado

agora eu tenho que ficar agora

fui pelo abandono abandonado

aqui dentro do lado de fora.


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