segunda-feira, 18 de junho de 2007

VONTADES.

Se está tudo pesado, medido e dividido, quero a minha parte do inferno. Embriagar-me com o fel que me foi reservado. Mas não essa amargura mesquinha que é comum a todos. Quero a totalidade da dor do espírito. Trevas totais onde nem uma nesga de luz seja esperança. Qualquer som banido a uma distancia infinita e a paz da surdez total seja um bloco a me pressionar os miolos, longa e ininterruptamente. A lepra a me comer os dedos pra não tatear em busca de um inferno mais brando. Quero os crimes que deixei de cometer por covardia. A atrocidade daqueles amores abortados por medo. A vileza e o escárnio dos outros, descartados por não servirem mais ao egoísmo da vaidade. Estar acorrentado a pedra, com o menosprezo que tive pelo amor do outro a me bicar eternamente a mente insana. A futilidade dos desejos vãos nunca saciados na busca daquilo que se deixou pra trás. A maldade concreta dos meus atos contradizendo a mansidão do meu discurso, e possesso rir disso, atrás das mil máscaras que escolho. E assim torpe, pensar enganar a mim, e escarnecer dessa consciência inútil que me julga, até torná-la tão mínima que seja indiferente existir ou não. Não a morte, que com sua mão de ausência tudo apaga, mas quero a dor infinita e insuportável de não saber mais o que sou nem o que faço, e que virá por fim como uma paz a me redimir pelo quis e não fiz. Quero me mexer, ir e vir, e estar morto como você. Assim vou e vais me entender. - (Dário B.).
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