sábado, 9 de setembro de 2006

MEDO


Mesmo que tu não queiras,
por mais que me evites,
ainda que me negues sem cessar.
Estou aí, em ti, indelével na tua pele.
Surgindo em cada arrepio,
presente em todo suspiro,
motivo do fundo gemido.
Sou eu na respiração entrecortada,
no teu ofegar.
Essa orgia no pensamento,
a divina melodia
que entorpece até doer.
Rubra flor se abrindo pulsante,
a doce agonia da pequena morte,
o sereno repouso nas caricias.
Me negue,
me esfregue,
me lave,
me tire de ti se puder. – (Dário B.).

BILHETE

Eu sabia que você vinha. A luz da frente está acesa, a porta só encostada, tudo pronto antes mesmo de te conhecer. Se eu estiver dormindo, tem umas coisas pra ti debaixo do teu travesseiro. Tem um bocado dos meus sonhos, que embora gastos eu gosto muito. Tome bem conta deles, até porque, você conhece alguns por estar neles. De felicidade, ainda sobrou um pouco, e quero que pegue tudo pra ti, porque assim também terei. Alegria tem bastante, e como sei que você traz mais, vai ser bom porque teremos um montão. A tristeza que tem eu escondi, pra jogar fora quando você não estiver olhando. E tem umas outras coisinhas: confiança, sinceridade, que eu deixei aí, mas são pra usarmos juntos, viu? Ah, e tem amor, que eu tenho sobrando. Como eu sei que você também tem, pensei que poderíamos trocar, pra não ficar sem. Se o travesseiro estiver muito alto, se ajeite comigo, tem sempre lugar pra ti. -
PS - Não me chame, me deixa o prazer de te acordar com um beijo. – (Dário B.).

VONTADE DE SOFRER

Quem pode negar que já passou por isso?
Hora propícia para fazermos as maiores asneiras da vida: o momento em que o desânimo perante a confusão do novo suplanta a vontade de sair da fossa - reencontrar ex-namorado(a) enquanto o sentimento ainda não deu o último estertor é cagada na certa.
Relacionamentos naufragados são como domingos de chuva: sabemos que não servem pra nada, mas insistimos que podem ser úteis pra alguma coisa. E aí, depois de reembarcar na canoa furada, arrumamos mais argumentos para sustentar as lamentações sobre o quão infelizes somos nós e abjetos, os outros. Mas esquecemos que fomos (re)conquistados porque teimamos em ter fé em coisas que não dependem de fé, acreditamos que o que era ruim até um segundo atrás poderia ter se tornado perfeito e reluzente. Fomos seduzidos pelo que quisemos ver e não pelo que estava, de fato, na nossa frente; nos agoniamos por não ter respostas pras nossas dúvidas e projetamos todas as soluções na "presença curadora" do outro.
Mas elas não vêm. E a mágoa volta. Dobrada. Chorosos, putos da vida, pedimos ao céu uma explicação razoável para o bis do sofrimento. Tentamos nos consolar em ombros de amigos, livros de auto-ajuda, sexo fácil, mas a explicação teima em não vir. Não adianta procurar debaixo do sofá, porque ela está estampada na sua testa: você sofre porque é uma besta.
A experiência vivida com aquela pessoa "magnânima" nos deu avisos suficientes de que a relação, se fosse um sapato, não era do tamanho do nosso pé: ou vai nos dar calo (de novo) ou cair no meio da rua. Vimos com nossos próprios olhos todos os problemas; os gritos das brigas arranharam a garganta e mesmo assim lá estamos nós insistindo em dar murro em ponta de faca. Tentando desesperadamente acreditar que dois monólogos podem fazer um diálogo - feliz e agradável, além de tudo. Mas a única coisa que conseguimos são mais calos, ainda mais doídos. O sapo é sapo, e só, enterre as ilusões. Não estou dizendo que existam pessoas ruins. De forma alguma. Apenas ruins pra você.
O fato é que, por comodismo e paúra, nos acostumamos até com a infelicidade de um relacionamento capenga. O temor diante do novo nos priva da grande alegria de descobrir que o mundo é maior que a nossa dor-de-cotovelo, que o cheiro ou os traços do(a) ex. Esse temor da rejeição, da exposição, da falta de controle perante o que não conhecemos é o que de mais castrador podemos fazer a nós mesmos. "Tá ruim, mas todo mundo tem problemas, não é?", como se isso fosse desculpa. Quer dizer que você vai comer cocô só porque 1 bilhão de moscas comem? Se os outros são sentimentalmente miseráveis, azar o deles! Não cabe a você solucionar a vida alheia.
Ansiar por um momento que nunca se repetirá é apenas o outro lado de ansiar por um momento que passou pra sempre. O passado só é lindo porque já foi. Não adianta tentar reproduzir as cores dele no presente porque o tom nunca será o mesmo. Nem você. Nem o outro. Nem o que os cerca. Esse presente (re)fantasiado, por melhor que seja, nunca se igualará às suas expectativas ou lembranças. E acabará, fatalmente, em decepção.
Quer saber? Levante a âncora. Porque quem anda olhando pra trás acaba tropeçando - e, pior, perdendo toda a paisagem.

*Sou obrigado a agradecer a Raquel de novo, tem me passado bons textos que acho egoismo manter só pra mim. Acaba que ela está blogando aqui mais que eu. + beijos, Quequel, humildemente agradeço.


segunda-feira, 4 de setembro de 2006

À CÉSAR O QUE É DE CÉSAR...

O texto "BOM MESMO É SER IDIOTA!" me foi passado pela Raquel Reis, (Quequel pra os mais chegados). Não seria justo eu me apropriar dele sem dar o mérito a quem realmente tem. Beijos Quequel, obrigado mesmo.

E AGORA, UM POUCO DE UTILIDADE PUBLICA...

BOM MESMO É SER IDIOTA!
A idiotice é vital para a felicidade! Gente chata essa que quer ser séria, profunda e visceral sempre. Putz! A vida já é um caos, por que fazermos dela, ainda por cima, um tratado? Deixe a seriedade para as horas em que ela é inevitável: mortes, separações, dores e afins. No dia-a-dia, pelo amor de Deus, seja idiota! Ria dos próprios defeitos. E de quem acha defeitos em você. Ignore o que o boçal do seu chefe disse. Pense assim: quem tem que carregar aquela cara feia, todos os dias, inseparavelmente, é ele. Pobre dele. Milhares de casamentos acabaram-se não pela falta de amor, dinheiro, sexo, sincronia, mas pela ausência de idiotice. Trate seu amor como seu melhor amigo, e pronto. Quem disse que é bom dividirmos a vida com alguém que tem conselho pra tudo, soluções sensatas, mas não consegue rir quando tropeça? Alguém que sabe resolver uma crise familiar, mas não tem a menor idéia de como preencher as horas livres de um fim de semana? Quanto tempo faz que você não vai ao cinema? É bem comum gente que fica perdida quando se acabam os problemas. E daí, o que elas farão se já não têm por que se desesperar? Desaprenderam a brincar. Eu não quero alguém assim comigo. Você quer? Espero que não. Tudo que é mais difícil é mais gostoso, mas... a realidade já é dura; piora se for densa. Dura, densa, e bem ruim. Brincar é legal. Entendeu? Esqueça o que te falaram sobre ser adulto, tudo aquilo de não brincar com comida, não falar besteira, não ser imaturo, não chorar, não andar descalço, não tomar chuva. Pule corda! Adultos podem (e devem) contar piadas, passear no parque, rir alto e lamber a tampa do iogurte. Ser adulto não é perder os prazeres da vida - e esse é o único "não" realmente aceitável. Teste a teoria. Uma semaninha, para começar. Veja e sinta as coisas como se elas fossem o que realmente são: passageiras. Acorde de manhã e decida entre duas coisas: ficar de mau humor e transmitir isso adiante ou sorrir... Bom mesmo é ter problema na cabeça, sorriso na boca e paz no coração! Aliás, entregue os problemas nas mãos de Deus e que tal um cafezinho gostoso agora? "A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios". "Por isso cante, chore, dance e viva intensamente antes que a cortina se feche". É por aí...

LAMENTO?

Confusa musa,
de profusas semifusas concisas e precisas.
Me fere como o vento de Junho,
as cores de Picasso,
os acordes de Beethoven.
Os sinos do convento da Luz,
o perfume do lírio,
o Sol nos olhos.
Me fez trocar o Universo por um grão,
a Eternidade pelo agora,
o Verso pela palavra,
a asa pelo chão,
a música das estrelas pela tua Melodia,
a Paz pela loucura, o Além pelo aqui.
E os olhos pelo Coração,
então morri... - (Dário B.).

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