segunda-feira, 12 de julho de 2010

PEDITÓRIO.

Quem é você que está em mim, e me faz tão criança assim? Faz de mim a tua presa, põe carinho sobre a mesa e no meio da incerteza não sei se sou almoço ou sobremesa. Justo eu, bom individuo, da moral um lumiar, das virtudes um assíduo, cidadão quase exemplar. Pra que me quer assim cativo, seguidor apostolar, sujeito subjuntivo, incapaz de cintilar? Vá lá, um ou outro enguiço, pois ninguém é assim perfeito, se por vezes molho o beiço, se pareço ser cobiço, se em casa eu engrosso, isso é conta de defeito? Mais vale o meu desvelo, carinho sem esperar, flores, sonho de valsa, qualquer alegria avulsa, quando o coração pulsa, teimando em se alegrar.  Não vamos ao padre nem a Vossa Excelência, desnecessária discrepância, seria redundância, frente à tamanha abundancia do nosso amor. Dispenso padre ou doutor, juiz ou monsenhor, não precisa testemunha, muito menos gatafunha, pena, carimbo ou relator. Troco tudo por acordo mais profundo, de nós mesmos oriundo, incomparável ritual, fator consensual e selo sem igual. Depressa que me aflijo, vem pra cá e me sufoca, prometo que me corrijo, cala de vez a minha boca, em regozijo, com um beijo. – (Dário B.).

domingo, 11 de julho de 2010

À MEIA LUZ.


Y todo a media luz, que es un brujo el amor,
A media luz los besos, a media luz los dos.
Y todo a media luz, crepusculo interior,
Que suave terciopelo la media luz de amor.


Há que ser no escuro. Mas não escuridão de trevas, que lembra quando fechas os olhos e deixas de iluminar tudo a sua volta. Há que ser naquela semi escuridão onde mais se adivinha que vê, e faz crescer o anseio. Um macio escuro que não assusta, mas aconchega e só faz aumentar curiosidade e volúpia, brando crepúsculo de pejos e resistências. Há que ser assim, numa suave penumbra onde se confundam a mansidão e a ousadia, na confusão das mãos que buscam no corpo do outro aquilo que já lhe pertence, desvairada e delirante procura. Há que ser a luz branca e leve de uma vela, muda testemunha que, invejosa estremece, tão pequeno o seu calor. Há que ser assim a entrega e a posse. Há que ser assim... – (Dário B.).
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