terça-feira, 16 de junho de 2009

DESCALABRO

Ali vai a conclusão.

Ali, fechado e selado,

Ali, debaixo do chumbo lacrado e com cal na cara

Vai, o que pena como nós,

Vai o que sentiu como nós,

Vai o nós!

(Álvaro de Campos.).


Eu só tenho pressa que o dia passe. Há convenções sociais, cuidados pessoais, há a busca imediata do prazer, mas a fatalidade pingando lenta dos ponteiros do relógio mostra o nada que isso se tornou. Só há realmente a pressa que o dia finde, que finde a noite insone e não haja mais amanhecer. Nada mais de cortesias nem vãos sorrisos obrigatórios. Nada de rotinas e responsabilidades. Nem sentimentos obscuros ou desejos irrealizáveis. E nem o horror do novo por a viagem ser para o ultimo destino é impedimento. O único desejo que resta é esta ansiedade, essa quase angustia que faz o corpo pulsar a espera do fim. Eu só tenho pressa que o dia passe. Pressa que a vida passe. Se pelo menos não demorasse tanto... - (Dário B.).


segunda-feira, 15 de junho de 2009

FAVORITOS XIII

Este eu não sei o titulo nem o autor, mas quem assistiu o filme deve ter percebido o poema escrito em uma das paredes do sanatório. Não sei porque tenho a impressão que é do Arnaldo Antunes, mas posso estar enganado e por isso confesso minha ignorancia e peço desculpas antecipadas pela falta de crédito. Mas o poema achei fantástico, tem tudo a ver.

Pós postagem: Uma corajosa alma que se arrisca as vezes a passar por aqui me confirmou que a autoria é mesmo do Arnaldo Antunes, o que me faz admira-lo ainda mais. Quem passou por uma situação analoga a descrita no poema e filme sabe do que falo. Obrigado Fabiana, pelo interesse.


BICHO DE SETE CABEÇAS (?)

O buraco no espelho está fechado

agora eu tenho que ficar aqui

com um olho aberto, outro acordado

no lado de lá onde caí.

Pro lado de cá não tem acesso

mesmo que me chamem pelo nome

mesmo que admitam meu regresso

toda vez que eu vou a porta some.

A janela some na parede

a palavra de água se dissolve

na palavra sede a boca cede

antes de falar e não se ouve.

Já tentei dormir a noite inteira

quatro, cinco, seis da madrugada

vou ficar ali nessa cadeira

uma orelha alerta, outra ligada.

O buraco do espelho está fechado

agora eu tenho que ficar agora

fui pelo abandono abandonado

aqui dentro do lado de fora.


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