quarta-feira, 22 de julho de 2009

ECO.

Quem escreverá a historia que podia ter sido? Agora quando grito para dentro de mim esperando pelo eco ouço apenas o vazio. Era um cofre que quase não se podia fechar de cheio, pobre esquife agora, restos de tábuas trabalhados as pressas. Vim ao mundo como quem é posto na roda dos enjeitados. Sem régua, compasso, bússola ou dez mandamentos. E embora sempre sentisse muito, nunca tive o que sentir. Toquei e vi mais do que meus olhos e agora tenho medo em pensar o que me restará disso. Cada momento é como sangue novo sob o velho açoite, é como querer beber o fundo do poço que não tem fundo, como navalhas que vem pelo ar com destino certo. E descubro que a vida enjoa. E tenho pena daqueles que rogam aos céus por longevidade e saúde. Pena deste amontoado de gente nas ruas, tão bem vestidos para cobrir a angustia interior, gastando maravilhados um dinheiro que não possuem em inúteis lindas coisas empilhadas nas vitrines. A vida enjoa e eu pasmo de o mundo não ter parado mesmo acontecendo tudo o que me acontece. Tem alguma coisa de errado nisso e eu só consigo pensar em como seria bom dormir, mas dormir a valer, per omnia sécula seculórum. - (Dário B.).

5 comentários:

  1. É um lindo poema, fiquei um bom tempo vindo ler algo novo e não achava, ai qdo chego hoje me deparo com esse poema/texto maravilhoso cuja determinada frase me chamou muita atenção: " E descubro que a vida enjoa. " Fiquei pensando em como não paramos para perceber que a vida se torna a cada dia uma rotina e toda rotina enjoa uma hora, lembrei-me das pessoas falando qdo alguém dorme eternamente, elas sempre dizem que a pessoa foi mto cedo, mas digo, cedo, ela já estava mesmo é enjoada da vida e resolveu dormir, dormir por séculos sem ter mais que se preocupar com as coisas supérfluas...

    Obrigada a agradável leitura que me oferece a cada dia querido...

    Bjokas...

    ResponderExcluir
  2. Lembrei deste soneto...

    A leve esperança em toda a vida
    Disfarça a pena de viver, mais nada;
    Nem é mais a existência, resumida,
    Que uma grande esperança malograda.

    O eterno sonho da alma desterrada,
    Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
    É uma hora feliz, sempre adiada
    E que não chega nunca em toda a vida.

    Essa felicidade que supomos,
    Árvore milagrosa que sonhamos
    Toda arreada de dourados pomos,

    Existe, sim: mas nós não a alcançamos
    Porque está sempre apenas onde a pomos
    E nunca a pomos onde nós estamos

    Soneto de (Vicente de Carvalho)

    ResponderExcluir
  3. é como ler às avessas..
    De um modo mais apurado aos sentidos

    É como se pudesse pegar com a mão as palavras que distribui pelo enredo do poema.

    gosto(euamumuitotudoisso)


    Ps: faltava o meu(?) não falta mais(!)
    Embora seja bom ler às escondidas(...)
    Beijo!

    ResponderExcluir
  4. Ecos, sons de infinitude. Lindas palavras foram sagraçoes a minha retina.
    Beijos de pó de ouvir.

    ResponderExcluir
  5. Se dormisse, como iria me encontrar?

    ;*

    ResponderExcluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...