segunda-feira, 12 de julho de 2010

PEDITÓRIO.

Quem é você que está em mim, e me faz tão criança assim? Faz de mim a tua presa, põe carinho sobre a mesa e no meio da incerteza não sei se sou almoço ou sobremesa. Justo eu, bom individuo, da moral um lumiar, das virtudes um assíduo, cidadão quase exemplar. Pra que me quer assim cativo, seguidor apostolar, sujeito subjuntivo, incapaz de cintilar? Vá lá, um ou outro enguiço, pois ninguém é assim perfeito, se por vezes molho o beiço, se pareço ser cobiço, se em casa eu engrosso, isso é conta de defeito? Mais vale o meu desvelo, carinho sem esperar, flores, sonho de valsa, qualquer alegria avulsa, quando o coração pulsa, teimando em se alegrar.  Não vamos ao padre nem a Vossa Excelência, desnecessária discrepância, seria redundância, frente à tamanha abundancia do nosso amor. Dispenso padre ou doutor, juiz ou monsenhor, não precisa testemunha, muito menos gatafunha, pena, carimbo ou relator. Troco tudo por acordo mais profundo, de nós mesmos oriundo, incomparável ritual, fator consensual e selo sem igual. Depressa que me aflijo, vem pra cá e me sufoca, prometo que me corrijo, cala de vez a minha boca, em regozijo, com um beijo. – (Dário B.).

4 comentários:

  1. Eu babei nesse poema... ficou lindo, que quase dancei enquanto lia...

    Porém, calar a boca assim, é mais doce do que todas as palavras ditas...

    ...

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  2. Gostei o ritmo esquiso, da ironia, do tom melódico, da cor erótica, do realismo, e da abrupturância de se ser calado num beijo. Parabéns!!!

    P.S. Lys, você me fez chorar de rir: "Eu babei nesse poema..." isso tá muito bom!!!

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  3. Adorei, alado!

    Um beijo é melhor que ponto final...

    Abraço!

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  4. que pacto lindo!!! emocionante sua capacidade de juntar as palavras num poema. Parabéns!! Bjim.

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