terça-feira, 9 de novembro de 2010

REPOST




Este, do meu santo protetor, mestre, guru e porta voz,  Álvaro de  Campos, nunca é demais reler:


Daí-me rosas e lírios,
daí-me flores, muitas flores
quaisquer flores, logo que sejam muitas...
Não, nem sequer muitas flores, falai-me apenas
em me dardes muitas flores,
Nem isso... Escutai-me apenas pacientemente quando vos peço
que me deis flores...
Sejam essas as flores que me deis...
Ah, a minha tristeza dos barcos que passam no rio,
sob o céu cheio de sol!
A minha agonia da realidade lúcida!
Desejo de chorar absolutamente como uma criança
com a cabeça encostada aos braços cruzados em cima da mesa,
e a vida sentida como uma brisa que me roçasse o pescoço,
estando eu a chorar aquela posição.
O homem que apara o lápis à janela do escritório
chama pela minha atenção com as mãos no seu gesto banal.
Haver lápis e aparar lápis e gente que os apara à janela é tão estranho!
É tão fantástico que estas coisas sejam reais!
Olho para ele até esquecer o sol e o céu.
E a realidade do mundo faz-me dor de cabeça.
A flor caída no chão.
A flor murcha (rosa branca amarelecendo)
caída no chão...
Qual é o sentido da vida? - (Álvaro de Campos?).


12 comentários:

  1. memorável!!!

    a pouco tempo assisti a peça "a natureza do olhar" com elisa lucinda(textos do pessoa), lembrei-me dessa maravilhosa passagem.

    beijo.

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  2. (e confesso que tenho queda por caieiro...)

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  3. Comentar essa poesia seria sacrilégio.

    Portanto , só a sinto , respiro viva dentro dela ...



    BjO.

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  4. A vida é isso mesmo... um homem aparando lápis à janela do escritório...
    Queria escrever pelo menos metade disso... um terço que fosse... mas ando até conformada... fazer o quê?
    É a vida... e vou aparando minhas arestas...

    ;*

    Bjo, Dário.

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  5. Dario este poema é tudo de bom, obrigado por compartilhar.

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  6. vc ja viu a exposição no museu da lingua portuguesa?
    obrigado por oferecer o teu selo!
    beijo!

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  7. Eu tenho a poesia completa de Álvaro de Campos...

    Pode até ser exagero o que vou dizer, mas digo:
    Comparo o livro à caverna de Ali Babá... é só dizer "Abre-te Sézamo" e a mágica acontece...

    Beijo!

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  8. o sono e a fome nos fazem barbaridades! rsrsrsrs
    beijo!

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  9. "E de folhas breves.
    E basta".
    RR

    abraço

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  10. Dário, eu ia te mandar...mas olha como fizeram o selinho! ahhahah Também achei "estranho"!Rs Mas, meu amigo, tu és tão merecedor quanto nós, mulheres e a Campanha se estende a vocês, homens também! Pegue seu selinho e participe! Bjs, querido blogueirOOOOO! :)

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  11. Relendo essa poesia que é fonte
    de vida ...


    BjO e um Dia Feliz !

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